Tuesday, December 19, 2006

Música no tempo de D. João V


D. João V ascende ao trono em 1 de Janeiro de 1707
Efeméride, em 2007: 300 anos do seu reinado impar!
Em Algés, no Teatro Amélia Rey Colaço, dia 17 de Fevereiro, pelas 16H, a cravista Magdalena van Zeller iniciará o ciclo
"Música no tempo de D. João V", com Sonatas e Tocatas de Carlos Seixas, Domenico Scarlatti e Padre António Soler.
Às 17H, o Prof. Dr. José Manuel Tedim fará uma conferência a assinalar esta efeméride.
Este ciclo, integrado no Festival Raízes Ibéricas, prolongar-se-á durante o ano em Algés, Cascais e Carnaxide.
Factos musicais, entre os mais relevantes, destinados a assinalar o tema central do Festival Raízes Ibéricas, em 2007 e outras menifestações complementares:
  1. Presença de Domenico Scarlatti na Corte de D. João V, desde 1719, durante nove anos, e que abandonou a Capela Papal, em Roma, para servir o monarca português;
  2. Criação da Academia Portuguesa de História;
  3. Reforma da Capela Real, elevada à dignidade de Sé Patriarcal;
  4. Criação em 1713 do seminário da Patriarcal - que viria a ser durante muitos anos a principal escola de música de Portugal, ficando adjacente à Capela real;
  5. Envio de Bolseiros para Roma, estimulado pela famosa Embaixada do Marquês de Fontes ao Papa Clemente XI, sabendo-se que, no primeiro quartel do século XVIII, a Cidade Pontífica era um dos maiores centros musicais da Europa;
  6. Criação em 1729 no Convento de Santa Catarina de Ribamar, da Escola de Cantochão dirigida pelo compositor Giovanni Georgi - do qual se conservam quase trezentas obras religiosas no Arquivo da Sé de Lisboa;
  7. Nos primeiros anos do reinado, celebração de aniversários e festas onomásticas dos membros da família real com zarzuelas espanholas, género de ópera alegórica que remontava ao século XVII mas que não aparecem vestígios anteriores;
  8. A partir da chegada de Domenico Scarlatti a Lisboa, em 1719, começa a introdução de Serenatas, género semi-operático italiano, com música do próprio Scarlatti e compositores como Francisco António de Almeida;
  9. Desde 1713, pelo menos, estão documentadas as primeiras tentativas de realizar, em Lisboa, espectáculos de ópera; há notícia, de pelo menos, seis deles, do género cómico. De representações avulsas na corte, pelos cantores da Capela Real, em palcos provisórios montados no Paço da Ribeira, durante o Carnaval. O interesse pela ópera define-se também por via particular, não obstante algumas frustrações sofridas, em 1733, por entusiastas como o Cónego Lázaro Leitão, um dos mais ricos clérigos da patriarcal e antigo secretário do Marquês de Fontes em Roma. Importa assinalar ainda o empenho de personalidades marcantes, na época, como Alexandre de Gusmão e o Conde de Ericeira. Acções continuadas em 1740 pelo Marquês de Abrantes e que acentuam esse empenho, ao assegurarem a edição de textos bilingues das óperas ( quase todos de Metastasio). De referir ainda, a propósito, que, em 1733, o rei D. João V não assistiu a alguns desses entretenimentos privados ( ocupado com as obras do Convento de Mafra), perdeu ensaios e representações de La pazienza di Socrate, faltou à estreia, em 1739, de La Spinalba - ambas de Francisco António de Almeida;
  10. Contemporâneamente surgem as principais representações asseguradas por marionetas - mas designadas como óperas - e que constituem o equivalente aos géneros semi-operáticos do Singspiel alemão, da ballad ópera inglesa e do opéra-comique francesa. Os textos são da autoria do advogado judeu António José da Silva (queimado, 1739, pela Inquisição). A música, com muita probabilidade, é de António Teixeira. Foram levadas à cena no Teatro do Bairro Alto - desde 1733 até àquela data fatídica;
  11. Entretanto, em 1735, é inaugurado o primeiro teatro público de ópera da capital, a Accademia alla Piazza della Trinita, (sensivelmente onde hoje existe o Tatro da Trindade), com Farnace de Metastasio, texto musicado pelo bolonhês Gaetano Maria Schiassi; inicia-se o gosto pelas chamadas "danças altas", mantendo-se durante estas manifestações de bailado, a separação entre sexos, o que criou dificuldades de expansão rápida e correcta deste género relacionado com o teatro lírico;
  12. Em 1738, a Academia da Trindade é, em parte, substituída pela actividade do Teatro da Rua dos Condes, situada no local do Cinema Condes, onde se cantavam óperas sérias, acompanhadas muitas vezes por intermezzi cómicos nos intervalos;
  13. Com a subida ao trono de D. José, em 1750, mantem-se o estímulo operático gerado pela acção de D. João V, com a vinda de novos cantores, homens de teatro, autores - desencadeando-se a construção e funcionamento de novos teatros. E sobretudo daquele que viria a constituir um dos maiores e mais arrojados acontecimentos da Europa do século XVIII;
  14. ÓPERA DO TEJO, situada junto ao mar, no local onde hoje está instalado o Arsenal da Marinha. Inaugurada no dia 31 de Março de 1755, com uma récita de Alessandro nell' Indie, de David Perez, reunindo quase todos os maiores cantores italianos da época, numa encenação prodigiosa encostada ao rio e que permitia reunir um destacamento de cavalaria no palco imenso.
  15. 1 de Novembro de 1755 - Terramoto de Lisboa - que engole a Ópera do Tejo, a Biblioteca de D. João IV e outras riquezas patrimoniais irrecuperáveis. Morrem os sonhos de grandeza e de cultura de D. João V. Em 1 de Janeiro de 2007 ocorrem os 300 anos da sua ascenção ao Trono.
Transcrição parcial, adaptação e condensação de textos extraídos da "História da Música Portuguesa", de Manuel Carlos Brito e Luísa Cymbron, edição da Universidade Aberta, 1992