Monday, June 04, 2007

CONCERTOS EM CASCAIS


No primeiro espectáculo, realizado no Centro Cultural de Cascais, dia 31 de Março, no decorrer do concerto inaugural pela Orquestra Raízes Ibéricas, após a execução de obras de Mozart e de Samuel Barber, o director e fundador da orquestra assinalou pessoalmente a estreia de um instrumentista, Richard Tomes, que assumiu funções de chefia de um dos naipes e que pertence também ao quadro permanente de fundadores. Interpretou a Suite Holdberg no centenário da morte de Grieg, um concerto de Telemann, sendo solista David Lloyd (que chefia as violas) e a terminar as Danças populares Romenas de Béla Bartók.

No concerto seguinte, em 12 de Maio, foi a vez do pianista argentino Fernando Altube que executou na sua estreia para o Festival, quatro das mais transcendentes peças de Franz Liszt, terminando com "La Campanella", célebres variações em que Paganini esgota, no século XIX, os mais inimagináveis recursos do violino.
Fernando Altube, depois de alcançar máximas distinções no Conservatório Tchaikowsky de Moscovo, na dupla qualidade de intérprete e autor, evidenciou-se como pianista e criador de obras sinfónicas de vulto, especialmente em Espanha e Buenos Aires, designadamente com a recente "Sinfonia Concertante El Cacuy".


Dedicou a primeira parte do recital à estreia da "Sonata-Requiem atípico", escrita por ocasião da morte de seu pai, a qual, segundo suas próprias palavras, começa com o "Obituário", em ambiente fúnebre, andamento lento, que deriva para um "allegro" - grito de dor perante a morte! A "Canção de amor filial" recorda afecto profundo conduzindo a obra ao ambiente misterioso que dá lugar a uma "meditação sobre a vida e a morte". Fugato - através do tango - onde se envolvem duas ideias: "Vida é viver, morte é morrer. Mas viver é também morrer, morte é Também viver. Princípio da existência humana: vida-morte ou morte-vida". Após a reexposição do allegro inicial e do tema da canção, a calma é aparente. Pouco a pouco acaba no grito, na Revolta!

Ainda em Maio, aconteceu a estreia de um singular recital de música e poesia, em que, duas a duas, se vão enlaçando poemas e músicas. De Florbela Espanca, Antero de Quental, António Feijó, António Nobre e Eugénio de Castro, contrapontadas com composições de Vianna da Motta, Debussy, Caplet, Massenet ( a célebre "Meditação"), fauré, Elgar e Chaminade.
No palco, a actriz Amélia Videira e o duo Lídia Serejo / Tatiana Balyuk.

Haverá no concerto seguinte, dia 15 de Setembro, a estreia de mais uma produção da Companhia de Música Teatral. Entrelaçam-se sons, palavras, luzes, linguagem gestual, de forma a tornar cada vez mais atraente, mais diversificado o espectáculo Música.
Ousado e complexo (na forma, na substância!) - Zyklus op. 2 - programado expressamente para Cascais reservado para este final de ciclo esta "première" mundial, digna da encantadora cidadela. Procurando impulsionar novas e criativas singularidades. Bastará referir que (desta vez...) o "prosema" - e este é de Elvira Santiago - deriva da estrutura formal de "Zyklus" - desses fabulosos sons da famosa obra de Stockhausen, identificada portanto, aqui com o mesmo título.
Música original de Paulo Maria Rodrigues. Concebida paar Voz, Corpo e Percussão. Instalam-se no palco os habituais colaboradores. Aos quais se vai associar, e pela primeira vez, a insigne percussionista Elizabeth Davis. Merecedora, como se sabe, de rendidos elogios em...Darmstadt!

No último concerto, em 20 de Outubro, haverá súbito e inesperado entrosamento entre o admirável divertimento mozartiano K. 536, em seis andamentos, e um instrumento solista. Título: TRIO CON BRIO E VIOLONCELO ELECTRÓNICO
No palco Vasco Alves assegura súbita e inesperada vertente electro-acústica acoplada à música escrita por Mozart no verão de 1788. Comparável em qualidade e inovação dos últimos quartetos de Beethoven. Período criativo mozartiano a que pertencem as três últimas sinfonias.

Este novo trio de arcos integra mais dois solistas de renome Gustavo Delgado e David Lloyd - ambos fundadores de dois quartetos de cordas já consagrados: o da Universidade de Buenos Aires e o Quarteto Lyra do Porto.
Como se fará essa "acoplagem"? A electrónica será susceptivel de se instalar, com sucesso numa tradicional sessão de música de Câmara? Poderá o timbre do violoncelo considerar-se bem vindo, de súbito, face às inovações da informática? Será que vogais e consoantes escolhidas (quase) ao acaso, correspondentes a determinados sons, poderão gerar música perfeitamente compatível à audição? No mesmo espaço físico e temporal? Numa alusão subtil ao carácter inovador do último Mozart, o Mozart da "Júpiter", do seu incomparável "Requiem"?